A Psicoterapia em Tempos Covidianos
O tempo é um importante organizador psíquico que funda e estrutura o desenvolvimento emocional. Na natureza o tempo marca os ritmos das estações, das sementeiras e das colheitas. Mas, na atualidade vivemos “tempos covidianos”, um tempo de reajuste dos ritmos, de novas aprendizagens e de novos desafios.
A Psicoterapia é por excelência um tempo de amadurecimento e de reflexão durante o qual estão presentes dois tempos: o tempo real, chronos aquele que marca o relógio; ao mesmo tempo que káiros (na mitologia representado por um jovem destemido), representa o tempo interno, aquele que não pode ser cronometrado.
Vivemos tempos inesperados e muito conturbados, marcados por incerteza e dúvidas em relação ao futuro. Quando é que tudo isto acaba! Quando acabar e se é que vai acabar nada será como um dia já foi, o tempo que está para vir será em tudo diferente do que o que conhecemos antes, o que nos confronta a cada um de nós, com a necessidade de aprender a lidar com o desconhecido, gerindo medos, ansiedades e angústias.
A psicoterapia é o lugar por excelência de encontro com cada um, um espaço de reflexão e de elaboração, um caminho de descoberta e de crescimento mental. Estes novos tempos que vivemos trouxeram-nos a necessidade de nos adaptarmos a settings diferentes, levando a uma abertura no espaço psicoterapêutico ao virtual, colocando novos desafios aos limites entre o dentro e o fora, impondo a criação de novas rotinas, levando-nos a aprender a viver com a incerteza e com o desconhecido, procurando (re)significa-lo e simboliza-lo.
As novas tecnologias surgem assim como uma ferramenta muito importante para poder manter a comunicação e dar continuidade a uma relação que está estabelecida ou até mesmo possibilitar a criação de uma relação, certamente com características diferentes de uma relação iniciada de um outro modo, mas não menos provida de afetos e geradora de transformação e de mudança.
A incerteza de um presente que nos assola a todos nós leva-me a pensar numa “inquietante estranheza” em relação ao futuro, algo que todos temos de aprender a lidar, (re)organizando espaço e tempo, dois organizadores essenciais para o bom equilíbrio psíquico.